28 maio 2011

AS VITRINES E O CINEMA, TEXTO DE ALBERTO URBINATTI

As vitrines e o cinema

No contexto do que tem sido falado nos últimos anos sobre o sumiço dos “cinemas de calçada” e a migração de muitos deles para o interior dos shoppings, uma coisa é fato: se o shopping pode ser um “ato de ir ao comércio” ou mesmo um “centro comercial”, o cinema tem se transformado em mais uma mercadoria de vitrine, das mais caras e, muitas vezes, das mais banais.
Essa questão se mostra bastante complexa, por isso, proponho apenas uma direção do debate. Em primeiro lugar, sugiro a existência de dois processos de deslocamento do cinema: o primeiro é essedeslocamento físico, ou seja, aquele em que o cinema muda de local; o segundo, talvez oculto, é o deslocamento perceptivo, aquele que diz respeito a uma mudança do “ritual” ou do “clima” de assistir a um filme. Ambos, portanto, seriam interdependentes e contribuiriam para a configuração do cinema-mercadoria de vitrine.
A interdependência se revela no trajeto até o filme. Parece haver um processo de legitimação da tensão entre ir ao cinema ou ir ao shopping para ir ao cinema. Já se torna difícil separar esses dois atos. Da mesma forma, não é simples dissociar o consumo do cinema como mercadoria ou como arte em si. Mas, e aqueles que ainda se esforçam para resistir a esses deslocamentos e encarar o cinema como arte em si?
Em Jundiaí, ainda não se discute efetivamente esse processo aqui apresentado; no entanto, a resistência dos cineclubes nos responde na prática a essa questão. O Cineclube Consciência, o Cineclube na Cidade e o Cineclube Cinergia, dentre outras iniciativas, estão aí para serem ocupados por nós – sem dependermos da compra de ingresso. Pois, tudo leva a crer que essas são as possibilidades que temos para apressar o passo em frente à vitrine do cinema-mercadoria e contornar a imposição dos deslocamentos.

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